terça-feira, 3 de agosto de 2010

Queremos o PNEP de volta

Olá.

Como sabem, o PNEP (Programa Nacional de Ensino do Português) é um programa de formação contínua de professores do 1.º Ciclo. Funcionou desde o ano 2006/2007 e propunha-se chegar a todos os professores do 1.º Ciclo.

Acontece que foi interrompido numa fase em que ainda não cumpriu esse objectivo. Por exemplo, no Núcleo em que trabalhei (Viseu) e considerando os professores do Distrito, a taxa de cobertura ronda os 30%.

Além disso, pela primeira vez em muitos anos (eu trabalho com formação de professores há 10...), havia um verdadeiro programa de formação. Era suficientemente trabalhoso fazer esta formação, para que não tivéssemos gente a fazê-la apenas pelos créditos. E o mais curioso é que a cada ano, mais professores davam sinais de querer fazê-la. Mesmo sabendo da dificuldade.

Por fim (e talvez uma das mais importantes informações), tanto os alunos, quanto os pais e as Direcções dos Agrupamentos, reconheciam nesta formação uma mais valia a todos os níveis. Os alunos adoravam as actividades propostas (esta formação é efectivamente prática), os pais reconheciam a evolução dos seus filhos no domínio da língua materna e as Direcções dos Agrupamentos percebiam que o desempenho geral era melhorado significativamente.

Então, a pergunta que fica tem de ser: por que razão acabou?
Falta de verba, foi a justificação.
Não sei qual o orçamento global deste programa, mas será que não era possível reafectar algumas verbas para que pudesse ser mantido?

Aproxima-se a entrada em vigor do Novo Programa de Língua Portuguesa, do Acordo Ortográfico (com as implicações específicas que uma alteração deste tipo tem no 1.º Ciclo) e das Metas de Aprendizagem. Não seria motivo suficiente para manter um programa que pudesse apoiar, no terreno, estas implementações?

Este blogue pretende ser uma plataforma para a gestão de informação daqueles que quiserem apoiar este movimento.

O PNEP acabou?

Queremos o PNEP de volta!

12 comentários:

  1. Sou Formadora Residente do PNEP, desde o seu início,no Agrupamento de Escolas de Alcains, do Núcleo Regional da Escola Superior de Educação de Castelo Branco.
    Quero dizer ao colega Ricardo que foi muito oportuno na criação deste espaço...
    Pelo empenho e dedicação mereciamos mais respeito, mas enquanto os projectos de educação deste país forem, essencialmente, de cariz político e económico não chegaremos a lado nenhum.
    Estou decepcionada!
    Margarida Santos

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  2. Olá Margarida.
    Obrigado pela participação (o primeiro é sempre o mais difícil) e pela partilha.
    Agora precisamos de juntar mais vozes.

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  3. Recebi ontem a notícia do fim do PNEP! Estremeci e senti que não era o único a sofrer este abalo (também o nosso amigo Marcelino dizia que ficou de coração acelerado…) e dei por mim a recordar o que vivi nos últimos dois anos e a reflectir sobre a forma como Portugal tem vindo a gerir a questão da educação...
    Foi com mágoa que me apercebi que falta ao nosso país a inteligência e a coragem para deixar as ideias crescer e dar os devidos frutos…
    O PNEP foi uma ideia fabulosa! Veio ao encontro dos reais problemas das escolas e da sociedade em geral e foi bem acolhido pelos professore e pelos alunos. Definitivamente, este não é um projecto qualquer. Sem querer fazer comparações com outros em que participei, posso assegurar que aprendi mais neste par de anos em que vivi o PNEP do que em todo o meu percurso de formação com mais de vinte anos… O PNEP realizou-me, em sala de aula, enquanto professor e devolveu às crianças que nele participaram o gosto por aprender português!
    Um dia destes serão divulgados os dados estatísticos do programa, com o número de agrupamentos, professores e crianças abrangidos. Espero que não se esqueçam também de analisar o quanto ainda há para fazer e mostrem o outro lado. O lado dos professores que se propuseram para continuar a formação, o lado dos alunos que nunca saberão o que é ter gosto por aprender português!
    Acredito que o espírito do PNEP não morrerá mas acredito ainda mais que, devidamente apoiado, é uma ideia que tem tudo para revolucionar o ensino nas nossas escolas!
    Solto aqui este desabafo porque fui PNEP, ao longo dos últimos dois anos! Fui PNEP com paixão porque vibrei com alegria dos alunos das turmas onde prestei apoio. Fui PNEP com uma entrega total quando passei horas a fio embrenhado no trabalho, interagindo com os colegas até de madrugada, preparando sessões, pesquisando materiais…
    Valeu a pena mas foi tão pouco ainda!

    DEVOLVAM-NOS O PNEP

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  4. António Marcelino, formador residente do PNEP

    Pessoalmente acreditava(acredito)muito no projecto PNEP e neste tipo de formação. Direi mesmo que é a única que eventualmente pode trazer mudanças efectivas na medida em que é eminentemente prática e implica (formador e formando) enquanto docentes em contexto de supervisão em sala de aula.
    É obvio que frequentar a formação foi sinónimo de muito trabalho para quem decidiu fazê-lo.
    Contudo, permitam-me que, parafraseando uma das minhas formandas, cite um provérbio chinês que diz mais ou menos o seguinte: "Quando sopram os ventos da mudança, uns levantam barreiras para se protegerem, outros constroem moinhos de ventos e, tendo trabalho acrescido nesse momento, esperam colher os frutos em breve".
    Quando digo que acreditava(acredito) no projecto PNEP, eram os meus 13 formandos, os seus alunos e o muito tempo e energia que lhes dediquei, que me faziam acreditar nele. Perdoem-me a aparente falta de humildade mas eles sabem que foi e que é verdade.
    Atentos que geralmemte procuramos estar, acabar com o PNEP não foi uma decisão que nos tenha apanhado totalmente de surpreza. O futuro da Educação há-de ser...o que Deus quiser. Façam o vosso julgamento. Reparem que no meu Agrupamento ficam mais de dois terços dos professores sem possibilidade de frequentar sequer o 1º dos dois anos da formação PNEP.
    Pessoalmente fico triste e algo inquieto. Gostava de não pensar que este foi um acidente de percurso mas que gostámos muito, mesmo muito de partilhar com formandos e alunos. Ajudámos a levantar alguns moinhos de vento, mas e os dois terços de professores que no Agrupamento ficou sem fazer a formação? Estou certo que ainda tinhamos todos muito a dar em favor da Educação em geral, tendo o PNEP como projecto aglutinador.O colega João Duarte fez uma síntese perfeita e bem adjectivada do quando foi árduo mas prazeroso e proveitoso este percurso que trilhámos juntos.
    Formador e formandos vamos procurar ser professores a ensinar ensinar melhor Português e felizes dos alunos que fruirem este nosso querer.Mas renovo a pergunta: e os muitos professores que não tiveram oportunidade de partilhar este percurso?
    Parafraseando o colega J. Duarte: Valeu a pena mas foi tão pouco!Pela melhoria do ensino do Português, pelos nossos alunos,DEVOLVAM-NOS O PNEP!

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  5. Quando enviei o relatório de progresso final 2009-2010 do núcleo de Faro à professora Inês Sim-Sim, despedi-me com um «até sempre, com ou sem PNEP». Creio que todos os que estiveram presentes no III Encontro Nacional sentiram fundo que o programa estava ameaçado em termos de continuação no terreno, mas guardávamos a esperança de que o «vil metal» não falasse mais alto do que a qualidade do trabalho que estávamos a desenvolver.
    Nunca as IES tiveram uma ligação tão grande e profícua com as escolas!Nunca as escolas tiveram tal quantidade de professores empenhados na atualização científica e pedagógico-didática! Nunca os alunos se envolveram de tal modo com um programa de formação, a tal ponto que a sigla PNEP andava naturalmente nas suas bocas e vibravam com os recursos e as atividades em sala de aula!
    Demos todos o melhor de nós: CNA, coordenadores institucionais (que estabeleceram, inclusive, uma rede de cooperação inestimável entre as várias IES), formadores residentes, formandos A1 e A2.
    Queremos o PNEP de volta! E o que é que cada um de nós poderá fazer, junto dos respetivos órgãos institucionais, para que o programa não se extinga? E o que poderemos fazer coletivamente?
    Conceição Andrade (coordenadora institucional do PNEP no núcleo regional de Faro).

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  6. Faço parte da família PNEP, ou mais concretamente fazia. Tive essa sorte! Não dou nem nunca dei valor aos valores materiais e nem espero pelo fim de semana para ver se me sai o euro milhões, porque não jogo. Conto sempre e somente com o que resulta do meu trabalho. Aprendi desde criança que para sermos alguém temos de trabalhar. Aprendi também, mas com a experiência de vida, que nem sempre o empenho no nosso trabalho é valorizado. Cada vez mais tenho a noção de que para se ser alguém não é necessário fazer muito esforço, porque quando surge algo que contraria a mediocridade, logo é derrotado. Já o senti na pele várias vezes, como também já o assisti em várias plateias.
    Esta formação foi diferente, para melhor, de todas as que já tive e foram muitas.
    Não estou aqui para dizer que me sinto triste, estou sim para dizer que ainda bem que recebi e transmiti formação no âmbito do PNEP. Aprendi muito. Nunca de outra forma o teria conseguido se não tivesse estado envolvida na formação.
    Assisti ao entusiasmo dos alunos quando sentiam a minha presença, havia algo de diferente nunca antes entendido. Nunca, na minha vida, ouvi tantas vezes a expressão “quando volta”. Prefiro manter na minha memória esse entusiasmo sentido e demonstrado pelos alunos do que sentir a tristeza da despedida… Vou ter ainda de assistir à desilusão de alguns colegas que queriam frequentar a formação este ano.
    Mas, a maior tristeza que sinto, é ter de frequentar “formação” para obter créditos para poder progredir na carreira, independentemente de a formação contribuir ou não para o meu desempenho profissional.
    Alegou-se falta de verba. Muito bem. Cortem na inutilidade. Porque é que se gastam milhões nas novas oportunidades? Eu chamo-lhe velhas, (que me desculpem os que lá andam com boas intenções) porque a maioria dos inúteis e parasitas que as frequentam tiveram as oportunidades quando eu as tive, só que, em vez de estarem atentos e de se esforçarem para obterem bons resultados, brincavam nas salas de aula, distraiam os colegas que queriam aprender e faltavam às aulas para virem gozar a vida na rua. Como prémio facilita-se-lhe a vida: paga-se um vencimento; atribui-se um computador para os filhos jogarem em casa; passeia-se a sacola. Como trabalho final ainda pedem aos lorpas, tipo eu, para lhes elaborarem o trabalho final para obterem o canudo, porque, se tiverem a sorte de ter alguém num lugar de destaque, conseguem de certeza ter sucesso na vida. Aqui sim, gastam-se milhões…
    Se se aborta um projecto com a qualidade do PNEP, lá vamos ter nós de assistir "às velhas oportunidades" quando a maioria dos actuais alunos tiverem idade para as frequentar...
    Eles próprios vão sentir saudades das aulas diferentes do PNEP e serão sempre os mais prejudicados.
    Colegas, ânimo para o futuro. Costumo guardar e manter sempre na minha memória a parte positiva das coisas. “Cresci profissionalmente e pessoalmente.”
    Maria Ester

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  7. PNEP para cá e para lá…


    O nosso país até tem ideias inteligentes
    nem sempre, mas às vezes lá calha
    Para nos ajudar a arrumar as mentes
    Criaram Programas para quem trabalha

    O ensino neste cantinho à beira mar
    Já precisava de algumas mudanças
    Por isso mesmo, havia que organizar
    Os entendidos tiveram tais lembranças

    Criaram vários programas governamentais
    Ajudaram alguns a ensinar Matemática
    Lembraram-se das Ciências Experimentais
    E havia que ajudar a malta na gramática

    Para ajudar a entender melhor o nosso idioma
    Havia que saber escrever e falar português
    Como não vivemos fechados numa redoma
    A formação do PNEP cumpriu bem a sua vez

    Para que tudo bem ficasse sistematizado
    Um só ano de formação não era suficiente
    No segundo ano tudo seria organizado
    Melhoraria a qualidade da classe docente

    Durante alguns anos assim se trabalhou
    No PNEP, muita coisa boa aconteceu
    A Beira Interior à chamada não faltou
    Penamacor nesta senda se envolveu

    Percorremos momentos complicados
    Visto que a carga horária era intensa
    Mas todos eles foram ultrapassados
    A alegria de adultos e crianças foi imensa

    Não estávamos à espera que terminasse já
    Pensávamos ainda continuar no próximo ano
    Foi com espanto que soubemos que não continuará
    E que a notícia do fim do programa não foi engano

    Pode ser que como é costume neste país
    Descubram que afinal terá que voltar
    Talvez até quem desta vez não o quis
    Descubra que tem que o reimplantar

    As linhas simples que hoje decidi escrever
    Não são mais do que algumas letras alinhadas
    Servem única e simplesmente para enaltecer
    As boas ideias que por cá vão sendo criadas

    Como já dizia o nosso ilustre Pessoa
    Nesta nossa vida, tudo vale a pena
    Mesmo que por vezes até nos doa
    É preciso que a Alma não seja pequena




    Iris Iolanda Afonso Pais, 4 de Agosto de 2010

    Formanda de 1º ano do Agrupamento de Escolas Ribeiro Sanches de Penamacor

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  8. Antes de mais um olá especial aos meus FR's que já por aqui passaram.

    As vossas palavras, por tão próximas, não podem deixar de tocar fundo.

    À Conceição, de Faro, o meu obrigado por juntar a sua voz à nossa e pela coragem de o assumir assim, publicamente. É bom perceber que o sentimento atravessa o país e não é uma coisa localizada. Pelo caminho, um olá à Iris, de Penamacor, pelas quadras e simpatia.

    Façamos circular a informação, para que os colegas, provavelmente de férias na maioria, possam juntar-se a nós!

    É PNEP em acção!

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  9. Sobre o trabalho desenvolvido ao longo desta formação PNEP, resta-me esperar que as sementes floresçam...
    Deixo aqui uma citação de Heufil que, pessoalmente, gosto muito:
    "Se não houve frutos, valeu a beleza das flores,
    Se não houve flores, valeu a sombra das folhas,
    Se não houve folhas, valeu a intenção da semente..."
    (Heufil)


    Margarida Santos

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  10. Nunca é tarde para juntar mais uma voz de desalento a tantos comentários que aqui jazem.
    Neste Portugal à beira mar plantado, como dizem os nosss ilustres poetas,bem poderia antes ser um Portugal à deriva, à guisa da Jangada de Pedra de Saramago, mas desta vez isolados na nossa falta de rumo, de inteligência, onde apenas conta o servir para se servir.

    Paulo Oliveira
    Como fcaros indiferentes a tantas atrocidades que se cometem em relação à educação. Será assim que queremos estar na senda do progresso? Será assimque qeremos elevar as competências (famosas!) dos nossos aluns e do povo em geral. Talvez se tenham perdido oportunidades, onde a falta de dinheiro (desculpas!) serviu para desculpar o fim de algo que estaria a dar frutos, mas que nunca saberemos. Ante tantos chorudos gastos, despesas sem afirmação, ordenados e reformas princepescas, talvez surjam Novas Oportunidades.

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  11. Eu também sou mais uma pnepiana a quem tiraram o chão... Nunca nenhuma formação ou programa para os professores do 1º ceb teve um impacto tão positivo - pelo menos que eu me lembre nestes 23 anos em que sou professora. Por todas as razões já apontadas, mas também porque nos deu a confiança e a segurança de que a mudança é possível acontecer sem sofrimento. Até muito pelo contrário.
    O Pnep trouxe a formação, mas trouxe acima de tudo o trabalho em euipa, a reflexão partilhada, o apoio ao docente em formação, a aproximação da escola à familia e à comunidade (e vice-versa) ... e o mais importante o entusiasmo renovado pelo ensino e aprendizagem da Língua Portuguesa.
    Sem dúvida que não merecia este fim tão precoce, inoportuno, incompreensível e tão mal justificado.

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  12. Deixo aqui, em jeito de acróstico,as minhas interrogações sobre o fim de um programa que era e ainda é tão importante.

    Partilhar, pensar, reflectir,aprender, ensinar,
    Não há dúvida que a formação é importante.
    E agora, sem verba, deixa-se tudo pela rama?
    Porquê, meu Deus? Que coisa irritante!

    Formadores residentes, não desistam e façam acordos com os vossos centros de formação para dar continuidade ao projecto.

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